Saibam mais do livro neste link
Confesso
que não sou apologista, nas análises que faço aos livros que leio, à
identificação das correntes literárias onde, porventura, esses mesmos livros
possam ser encaixados. Só não assumo essa inabilidade como «aversão» porque a
definição do termo, nos dicionários de língua portuguesa, reporta para o
ódio/repugnância e, no meu caso, é mera antipatia pela tarefa por acreditar que
esse género de análise tem mais sentido quando feita dentro de perspectivas
académicas. Eu limito-me a identificar aquilo que considero boa ou má escrita,
respeitando sempre as minhas próprias definições e parâmetros de qualidade.
Faço esta confissão como alerta para os mais "literais" que, muitas
vezes, não entendem o alcance do que escrevo, dando-lhe conotações
excessivamente clássicas. Não tenho essa pretensão!
Serve o
parágrafo anterior para justificar a distinção que faço entre o romantismo como
corrente literária, onde se inclui a generalidade dos autores da modernidade
(mesmo sem o saberem), e o romantismo enquanto forma de discurso de carácter
sentimental (usado até à exaustão pela quase totalidade dos autores de hoje).
Posto
isto, quero falar-vos do livro ANTOLOGIA DO SILÊNCIO de Susana Inês que
considero apropriado ser incluído no universo do romantismo, que não a corrente
literária, embora tenha as características ideais para também o ser.
Não sendo
um grande livro (nem mesmo no tamanho) é um bom manual de como escrever sobre
sentimentos de um modo distinto da norma. Enquanto a maioria faz uso abusivo de
clichés e discursos insossos e pouco originais, a autora deste ANTOLOGIA DO
SILÊNCIO consegue fazer uma abordagem mais imagética com recurso a instrumentos
linguísticos que raramente vemos serem utilizados, nomeadamente as figuras de estilo.
Exemplo perfeito do que acabo de referir pode ser observado logo no poema
inicial:
PORTA DE ENTRADA
Na minha porta de entrada
Há sempre uma vista
Para uma janela
Mais súbita e intensa,
Para um sonho mais sábio
Que aspira à sarça da confiança.
E se a realidade
não for aquela que se deseja,
a porta de entrada
verá a janela do Presente
e se a janela não bastar
o Sol desvenderá, ao longo da estrada
a chave para aflorar
o sorriso da gente.
ou ainda,
mais adiante:
MÃOS DE SOL
Encaras a vida com armas de brilho,
Braços de árvores e mãos de Sol.
Digeres as palavras
Como se te alimentasses
Somente delas e da Alma que elas te trazem.
A seiva, o oxigénio, a vida,
A explosão acesa em cada cítara
Que ouves harpeando no eco do teu cogitar,
É a certeza gradual que contempla
O compasso da melodia
Que escutar-se-á além-mar.
e a
componente romântica:
RECOLHER
O recolher imprevisto
Do beijo que tocou
O começo da noite,
Onde a ânsia não se aquieta.
As mãos prenderam mas não disseram
Mais nada que não a dimensão do gesto!
E mais
exemplos poderia dar mas correria o risco de transcrever integralmente o livro,
e não é isso que se pretende.
Creio não
estar muito longe da verdade se disser que, com este trabalho, a autora
pretendia levar os leitores numa viagem pelos silêncios, que só a palavra
escrita nos pode proporcionar. De modo geral pode ter conseguido mas, para mim,
a sua grande conquista, senão o maior atributo deste livro, é ter emprestado um
enorme cunho de originalidade na maioria dos textos apresentados e, com esse
simples acto, provar que ainda há margem de manobra suficiente, para se ser
criativo, para todos aqueles que negam entregar-se a uma só fórmula; a uma
única abordagem.
MANU
DIXIT
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