Agradecemos ao autor Macvildo Pedro Bonde pela disponibilidade em responder às nossas perguntas
Podem acompanhar o autor neste link
1 - Como se define enquanto autor e pessoa?
Acho que sou uma
pessoa aberta a influências do mundo. Gosto de fazer pontes. Sou simples e de
poucas falas. Como autor, sou ambicioso e cauteloso nas minhas abordagens. Sou
um autor que trabalha afincadamente a palavra. Procuro entender à risca o campo
onde piso. A literatura é um mundo lúdico. Gosto do trabalho na palavra.
2 - O que o inspira?
Eu não vivo de
inspiração. Olho para o trabalho como a força motriz. É isso que me move. Como
disse Francis Ponge: “poesia é antes de mais uma questão de trabalho”. Contudo,
tudo o que me rodeia serve de campo para as minhas reflexões como autor.
Escrever é um acto de militância.
3 - Existem tabus na sua escrita? Porquê?
Não sei dizer.
Seriam tabu em que sentido. Não falar de determinados assuntos? Agora tenho
alguma dificuldade em escrever sobre o amor. É um tema interessante, mas ainda não
vivi o suficiente para ter uma alma vibrando quando escrevo.
4 - Que importância dá às antologias e colectâneas?
As antologias são
uma forma de dar a conhecer os autores quando ainda não se sentem confortáveis
em dar o salto como autor autónomo. É um espaço de convívio entre diferentes
formas de olhar a palavra. Eu tive a sorte de fazer parte de uma antologia com
autores de língua portuguesa, em 2013. Para mim, serviu como catalisador para
aquilo que viria a ser a minha afirmação como autor, hoje. Claro que na época
ainda estava enviesado com a tristeza. Hoje a minha escrita apresenta uma alma
menos tenebrosa.
5 - Que impacto têm as redes sociais no seu
percurso?
Para a minha geração,
as redes sociais servem como mais um espaço de divulgação dos nossos trabalhos.
Aqui não há barreiras, todos os que fazem parte da nossa rede de amizade podem
acompanhar o que estamos a desenvolver. As barreiras continentais desaparecem
neste espaço virtual. Estamos em tempo real com o mundo. Os jornais e a televisão,
os canais tradicionais não têm a mesma velocidade na difusão e informação dos
nossos trabalhos. Os lançamentos dos meus livros tiveram grande interesse com a
utilização desta plataforma.
6 - Quais os pontos positivos e negativos do
universo da escrita?
Os conflitos são
sempre um ponto negativo, pois deixamos de discutir a obra, o trabalho para descarrilarmos
na pessoa que veicula a informação. O universo da escrita é extraordinário.
7 - O que acredita ser essencial na divulgação de um
autor?
Nem sempre. Mas
as polémicas tem por motivação dar a conhecer uma obra na sociedade. Mas para
mim, esta não é a melhor forma a usar. Existem críticos de literatura para mostrarem
os pontos positivos e negativos de uma obra. Hoje, as universidades fazem teses
com obras de autores, porque temos de alimentar polémicas?
8 - Quais os projectos para o futuro?
Continuar a
escrever poesia. Em paralelo vou dedicando algum tempo a literatura infantil,
um campo difícil para mim. Quero ver se enquanto autor consigo escrever um ou
dois livros desse género e rumar para a prosa. Mas, aí terei de ter mais
arcaboiço para enfrentar centenas de páginas em branco. Na poesia conseguimos
reduzir todo o nosso pensamento em poucas palavras.
9 - Sugira um autor e um livro!
Pedro Pereira Lopes – o mundo iremos gaguejar de cor
10 - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizessem?
E como responderia?
Como está a saúde da literatura contemporânea em
Moçambique?
Acho que estamos
a viver um bom momento. Há muitos jovens promissores, o que indica a
continuidade de uma tradição literária. O tempo é um bom conselheiro. Ele vai
por à prova essa esperança, de modo a deixar pontificar os mais audazes. Tanto
na prosa como na poesia, encontramos uma juventude capaz de manter uma tradição
estética com Knopfli à cabeça.
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